SARESP: INDICADOR DE QUALIDADE OU PARANOIA PEDAGÓGICA?
Políticas públicas educacionais no Brasil apontam para um neotecnicismo educacional e a sua crescente mercantilização
Mais um final de ano se aproxima e com ele, para os estudantes da rede pública estadual de São Paulo, está chegando o “grande” dia do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP).
Grande?
Por que grande?
Para os alunos esse dia não passa de mais uma prova que “não dá em nada”. Para os professores é um dia em que uma prova definirá o seu “bônus”. Para a direção é um dia tenso, pois não pode ocorrer nenhuma falha. Para a Diretoria de Ensino (DE), é um dia de grande expectativa, pois o trabalho de um ano inteiro será avaliado por essa prova. Para a Secretaria de Estado da Educação (SEE), é um dia de grande sucesso.
O fato é que desde 1996 essa prova ocorre no mês de novembro nos últimos dias letivos do ano. Aliás, vale lembrar que culturalmente para os alunos (e alguns professores) a aplicação do SARESP é o último dia letivo do ano.
O SARESP é uma avaliação de múltipla escolha, aplicada para os alunos que estão na 2ª, 4ª, 6ª e 8ª série (3º, 5º, 7º e 9º ano) do Ensino Fundamental, e 3º ano do Ensino Médio. As questões são, em sua maioria, língua portuguesa e matemática, alternando ano após ano entre ciências humanas e ciências físicas e biológicas. Além das questões, os alunos e a família respondem, também, a um questionário socioeconômico, cultural e aspectos gerais da situação escolar. Por fim, os professores e gestores das escolas também respondem aos questionários on line.
Essa avaliação corresponde ao que a SEE denomina como índice de desempenho, pois a partir da nota do SARESP, será calculado o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo). Os índices são seguidos de metas estabelecidas pela própria SEE que gera, no final das contas, o “bônus” dos professores.
O fato é que o modelo do SARESP como está não é dos ruins (já foi pior). Hoje as questões obedecem a metodologia do TRI (Teoria de Resposta ao Índice). Mas não é sobre isso o que queremos abordar. O que vamos abordar com maior profundidade é a caça desesperadora atrás dos índices.
Durante o decorrer do ano, os coordenadores das escolas e diretores lembram em todos os momentos aos professores que a turma X ou Y fará SARESP. As orientações na DE são em vistas ao SARESP. As ATPC’s (Atividades de Trabalho Pedagógico Coletivo) são em busca da melhoria do SARESP, enfim, tudo o que se respira na escola é em torno do SARESP.
Mas será que o SARESP é um fim ou é um meio?
Afinal, existe transparência ou não nesse processo?
- – Porque não se discutem a baixa formação didático-teórica dos professores?
- – Porque não se discute o plano de carreira dos professores?
- – Porque não se discute a reforma no currículo e nos conteúdos?
- – Porque não se discute o excesso de alunos em sala de aula?
- – Porque não se discute a falta de segurança nas escolas?
- – Porque não se discute a falta de infraestrutura nas escolas?
- – E porque esses itens não entram na pesquisa?
São muitos problemas, portanto, é mais fácil discutir as teorias de resposta aos índices.
Será que esta prova tem mais significado ao aluno do que a outra? Será que por detrás disso está um conjunto de interesses pessoais?
Pois o ENEM é a porta de entrada para muitas faculdades e acesso às bolsas. Enquanto que o SARESP “só dá o bônus para o professor”?
Parabéns pelo texto.