PROFESSORES INDEPENDENTES?
Já faz algum tempo que discutimos a falta de independência intelectual dos professores. Desde 2012 em que iniciamos o Programa E Agora José? já nos debruçamos algumas vezes sobre temas em que envolviam o assédio moral sobre professores. A falta de independência intelectual e como os professores são cerceados diante da sua prática docente.
Também discutimos recentemente, em um vídeo publicado em nosso canal do YouTube, a ideologização em sala de aula. Em todos os nossos textos e vídeos, sempre defendemos a liberdade de expressão. Ainda que possamos não concordar com o tema tratado.
O fato é que vivemos em uma época de extremos. A polarização partidária e religiosa tomou conta das discussões que envolvem a educação. De um lado, apresentam-se defensores da liberdade de expressão, da discussão sobre gêneros, exploração de conceitos tratados dentro de uma perspectiva sociológica mais voltada à esquerda (se é que se pode afirmar isso). Do outro lado, figuram aqueles que defendem a mecanização do trabalho docente através de currículos engessados e padronizados. Com conteúdo estanque, que reproduz o conhecimento sem adentrar em discussões polêmicas ou sem refletir sobre causas e efeitos de um determinado fato (aqui, entendemos como uma tendência à direita). De um lado, é possível afirmar que se figuram progressistas e do outro, tradicionais.
A liberdade
Entretanto, independentemente de corrente filosófica, política ou religiosa em que se encontram tais grupos, o que nos interessa, considerando um período em que ainda estamos construindo a democracia no Brasil, o que devemos lutar veementemente é sobre o cerceamento da liberdade de expressão do professor em sala de aula. Tal liberdade jamais deve ser confundida com a libertinagem, em que se faz o que quiser. A liberdade deve ser entendida enquanto a possibilidade de o professor expressar a sua opinião e discutir com seus alunos diferentes pontos de vista, diferentes concepções e ideologias (sem a imposição de uma “verdade”).
Para tal, sabemos que para que o professor tenha tal liberdade e autonomia, ele deve primeiramente ser autônomo – (algo que não se adquire com um curso ou com um diploma). A construção de um sujeito autônomo se dá ao longo de toda sua vida, a partir das diversas relações que abarcam sua formação acadêmica e não acadêmica. Ser autônomo e ser intelectualmente independente não é tarefa fácil, ainda mais se tratando de Brasil (onde historicamente nunca fomos “treinados” para sermos livres) e por sermos professores, ou seja, uma profissão que historicamente sempre foi cerceada por interesses políticos, sociais e econômicos (independentemente de variação histórico-geográfica).
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Professor: profissão alvo
Mas, por que a profissão de professor sempre foi alvo de interesses de governantes e estrategistas sociais? Por que os professores sempre foram formados e treinados para serem reprodutores de cartilhas e cumpridores de tarefa? Desde que Comenius publicou a Didática Magna no século XVII que a formação em massa de professores tem servido para formar a massa. Ou seja, formar um cumpridor de tarefas para que a massa cumpra tarefas. Assim, a manutenção do status quo sempre foi garantida.
Tal manutenção do status traz consigo valores morais e éticos de um determinado grupo social. Um grupo formado por detentores do poder (econômico, político e religioso). Desestruturar essa manutenção significa desestabilizar o status quo, ou seja, a manutenção da ordem. Talvez daí venha o motivo sobre o “total controle” sobre a formação do professor, uma vez que ele formará a sociedade.
Compreender a função da escola enquanto um “Aparelho Ideológico de Estado” para criação de “Corpos Dóceis” pode ser muito bem compreendida a partir dos trabalhos de Althusser e Foucault. Não somente! também é possível compreender a escola diante da falsa ideia de que é a partir dela que se tem ascensão social (Bourdieu). Ora, a partir do momento em que temos compreensão sobre a função do “sistema escolar” estruturado com currículos e programas bem definidos, e estritamente supervisionado para que “tudo seja cumprido”, torna-se mais fácil compreender o real significado da escola. O ideal significado da escola.
Deste modo, colocar em pauta a discussão sobre temas tais como “identidade de gênero”, “aborto”, “política” ou “direitos sociais” é confrontar a manutenção da ordem estabelecida historicamente pelos grupos dominantes.
Por fim…
Obviamente que grupos denominados de “Direita” ou “conservadores” são contra a inserção desses conteúdos em sala de aula. Também são contra a discussão de problemas sociais e políticos (a não ser que seja para falar mal do partido diferente do deles).
Notadamente, as pessoas que se opõem a esses e outros temas, em ambiente escolar, defendem a neutralidade do professor em sala de aula. Porém, conforme nos lembra Demerval Saviani, é impossível fazer com o que o professor seja neutro. Ele sempre vai ter uma posição. Professor, é pai, é membro da sociedade, é filho, é tio, ou seja, professor também é gente. Possui as mesmas qualidades e defeitos das outras pessoas. O que defendemos, na escola, é que o professor tenha a liberdade de tratar seus assuntos. A partir da sua ótica, mas sem impor sua verdade. Ou seja, apresentando sempre os dois lados da moeda. O que muitas vezes também é atacado pelos conservadores, uma vez que isso poderia trazer a reflexão.
Omar de Camargo
Professor em Química.
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Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo.
[email protected]
CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. Professores independentes?. Gazeta Valeparaibana [Online] São José dos Campos, 01 ago. 2015. Professores. Disponível em http://gazetavaleparaibana.com/093.pdf Acesso em 22 ago. 2015.
Infelizmente somos privado de muitas coisas na qual temos direitos é preocupante que a falta de intelecto para os jovem só irá nos caminhar para uma sociedade leiga.
Muito bom…muito bom e muito bom
Muito obrigado.
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Um forte abraço
Ivan
Emocionada com esse texto.
Espero que tenha proporcionado boas reflexões.
Todas as críticas são muito bem vindas.
Um forte abraço
Ivan