ELEIÇÕES 2016 E A ESCOLA
A EDUCAÇÃO PRECISA DISCUTIR ISSO
Mais uma vez as eleições estão chegando. Com ela, agora na edição das eleições 2016, vemos as estratégias dos candidatos que querem se perpetuar no poder e aqueles que também querem uma cadeira (preferencialmente uma poltrona). Tenho observado vários links e postagens compartilhadas pelos candidatos e percebido o quanto são carismáticos e carinhosos com a população, não é mesmo?
Nos jornais figuram as melhores fotos. Candidatos fazendo careta ao saborear um autêntico pastel de feira, ou ao degustar um belo pingado (café com leite). Também vi uma bela senhora dançando com crianças e outro segurando crianças na feira (chega a ser patético).
O fato é que os candidatos ainda utilizam velhas técnicas de convencimento do público. Partem para as carícias, enquanto que nos demais anos dos seus mandatos esquecem-se da população. Há também aqueles que adoram utilizar sua profissão como pronome de tratamento. Professor fulano de tal. Fulano do gás. Ciclano da farmácia. Doutor Beltrano, Doutor De Tal, Dentista e por ai vai.
Uma postagem que me chamou muito a atenção, nesses tempos de eleições 2016, foi a publicação de uma propaganda que garantia ao candidato “profissionalizar-se” em menos de três semanas para concorrer às eleições. Isso me remete à Platão, que criticava o sistema de ensino de sua época baseado na gramática, na retórica e na dialética que serviria apenas para formar os funcionários públicos daquele período (sobretudo os políticos).
Na época de Platão, e na Roma antiga, as crianças, filhos dos nobres senadores e demais membros da elite, eram treinados para possuírem uma ótima oratória. Através dessa técnica poderiam convencer a população de (quase) qualquer coisa.
Com o passar do tempo, o ensino da oratória foi perdendo espaço para os conteúdos científicos, já durante o iluminismo. Poucos foram os esforços para que desenvolvêssemos nossas habilidades orais. Aqueles que se destacaram com o uso da oratória e da dialética se destacaram entre seus pares.
Hoje na escola voltamos a discutir a questão da oratória. A habilidade de se expressar através da modalidade oral é descrita por Gardner como uma das nove inteligências múltiplas, já discutido em outros textos. Porém, não é sobre isso o que pretendo discutir aqui neste espaço.
O fato é que nossos políticos não estão lá muito preocupados com a população. Basicamente fazemos uma política contemporânea com velhas estratégias. E a escola? Aonde entra?
Muitos que me leem há algum tempo sabe o quanto venho discutindo e combatendo o movimento chamado “escola sem partido”. Este movimento (dentre outros aspectos) impede que os professores discutam sobre política nas escolas.
Ora, se pensamos a política do ponto de vista de participação social, como podemos nos excluir deste debate? Como podemos colocar para nossas crianças a percepção sobre o sujeito que mente descaradamente através da retórica e convence centenas de milhares de pessoas das suas posições? Como podemos apresentar, discutir e debater sobre os problemas sociais sem que haja liberdade de expressão para professores e alunos?
Durante os anos de 1980 e 1990 acompanhamos um grande movimento progressista na educação que trouxe a necessidade de se discutir os problemas sociais e colocar o indivíduo diante das urgências da população. Vários autores e vários materiais foram produzidos com o intuito de desconstruir uma escola liberal e conservadora.
A partir do final dos anos 90 e avançando sobre esta segunda metade do século XXI, começamos observar os frutos dessa concepção. Hoje temos grande parte da população que se dispõe a discutir política. Independentemente de visão ideológica de direta ou esquerda. Liberal ou progressista. Não importa. Hoje, temos a liberdade de debater sobre nossas preferencias políticas e cobramos (ou pelo menos começamos cobrar) nossos representantes políticos.
Enxergo com certo otimismo o uso das ferramentas tecnológicas para acompanhar e cobrar nossos políticos. Se em outros tempos eles nem olhavam para nossas caras, hoje são obrigados a ler, ouvir e nos ver.
Em outros momentos, junto com meu amigo Omar de Camargo, discutimos sobre muitos problemas da educação. Denunciamos diversas formas de corrupção na educação e propostas “tortas” dos nossos governantes. Cada vez que escrevemos e cada vez que gravamos algum vídeo, tivemos a oportunidade de desatar um nó na garganta que nos impedia de expressar nossas opiniões.
Recomendo muito que você também faça o mesmo. Não se iluda com uma bela foto de um candidato posando ao lado de um pobre. Não se encante com dezenas de pessoas carregando bandeirinhas de um determinado candidato, achando que eles realmente estão lá por acreditar em uma proposta (salvo raras exceções, na maioria das vezes são pagos para isso).
Na escola devemos levar essa discussão para sala de aula. Nosso aluno deve saber o que é oratória, o que é dialética e o que é retórica. Precisamos trabalhar essas habilidades e sempre deixar claro que isso pode ser utilizado para um lado ou para o outro. O aluno deve ter a liberdade de escolha de como vai usar.
Enquanto isso, continuamos acompanhando o show de horror que está nas redes sociais, nos jornais e nos diversos carros de som que anunciam os melhores candidatos para nos representar.
A escola precisa discutir isso.
Ivan Claudio Guedes, 36
Geógrafo e Pedagogo.
www.icguedes.pro.br
GUEDES. I.C. Eleições 2016 e a escola. Gazeta Valeparaibana [online]. São José dos Campos, 01 set. 2016. E Agora José? – Debatendo a Educação. Disponível em: <http://www.gazetavaleparaibana.com/106.pdf> Acesso em 05 set. 2016.