No mês passado, nessa mesma coluna do jornal Gazeta Valeparaibana, apresentei uma discussão sobre a não utilização do livro didático. Devo dizer que essa discussão rendeu muitos frutos, muitas opiniões e muitas críticas. O foco principal daquele artigo era o de problematizar o desperdício de dinheiro público com a não utilização dos livros didáticos.
Muitos colegas afirmaram que realmente não fazem uso do livro didático, adquirido via PNLD, por diferentes razões. Muitos também deixaram bem claro que utilizam e apresentaram, inclusive, seus métodos e potencialidades em sala de aula.
O que mais me chamou a atenção neste debate é que aqueles que se dizem de “esquerda” afirmam que o livro didático é um instrumento de dominação capitalista, que tem como único objetivo formar mão de obra para o mercado. Já os de “direita” afirmam que os livros didáticos são instrumentos de “doutrinação marxista”, e que precisam ser “combatidos”. Desculpas a parte, volto a afirmar que falta uma análise profunda sobre os livros didáticos, com o objetivo de derrubar mitos e extrair desses materiais o que eles possuem de melhor. Já discuti sobre isso no mês passado, mas volto a afirmar, atualmente o mercado de livro didático oferece opções para todos os “gostos e sabores” e cabe ao professor, juntamente com sua equipe escolar, escolher corretamente.
Basicamente o livro didático deve servir de material de apoio ao professor. É a partir dos pressupostos do Projeto Pedagógico da escola e do currículo escolar que o professor vai fazer uso desse instrumento. É importante destacar que o livro didático por si só não apresenta todos os recursos desejáveis à aula. Sendo assim, cabe ao professor planejar sua aula (dentro do tempo disponível) selecionando aquilo que ele vai extrair dos livros (gráficos, mapas, tabelas, figuras, infográficos e/ou textos curtos de leitura compartilhada) e acrescentar o que pretende desenvolver com os alunos (debate, discussão em grupos, atividades práticas, exibição de vídeos, etc.).
É importante destacar que o professor deve ter total autonomia sobre sua aula. Deve ter a liberdade de escolher os melhores métodos que lhe cabem e oferecer o melhor da sua aula. Porém, não se deve negligenciar o uso do livro didático, uma vez que se trata (muitas vezes) da única literatura que o aluno possui para realizar procedimentos de leitura.
Sempre que tenho a oportunidade procuro ler o manual do professor. Essa parte é essencial ao professor para que conheça melhor os pressupostos teóricos que embasam o livro. Nessa parte do livro (pouco consultada) podemos entender a linha de pensamento do autor tanto no que se refere à sua concepção pedagógica, quanto da disciplina em si que está tratando. Muitos livros trazem também (no decorrer da obra) indicações didáticas e dicas para chamar a atenção dos alunos para o que é discutido (isso já me ajudou e ajuda muito até os dias de hoje).
Voltando à primeira discussão apresentada no mês passado, posso destacar os seguintes problemas elencados pelos colegas:
Principais problemas destacados com o uso do livro didático:
- O MEC não distribui a quantidade necessária para todos os alunos: Neste caso, o mais indicado é entrar em contato com o próprio MEC, através do número 0800-616161 e informar o que está acontecendo. De acordo com as orientações do Ministério, as escolas recebem reserva técnica e as secretarias de educação também. Caso não esteja recebendo é importante entrar em contato, pois algo de errado está acontecendo. Vale lembrar que o livro não é “do aluno”. Sua entrega deve ser realizada no início do ano e a devolução no final do ano. Ao final do terceiro ano de uso ele poderá ficar com o aluno. Se a escola faz a distribuição e não recolhe no final do ano, realmente não haverá para todos.
- Os alunos não trazem o livro para a escola e reclamam que é pesado: Entendo que é possível se organizar de duas formas: 1. A escola pode montar a grade horária permitindo aulas duplas para que o aluno traga, no máximo, 2 ou 3 livros por dia; 2. A escola pode manter uma certa quantidade de livros volantes para que sejam utilizados no dia a dia e manter os livros dos alunos em casa para consultas e lições de casa. Fica aqui um desabafo: em todos os colégios particulares em que trabalhei os alunos levavam e traziam seus livros diariamente, quase nunca ouvia reclamações por causa do peso, muito pelo contrário, eles reclamaram quando passava uma ou duas aulas sem utilizar o livro didático (o que entendo que cabe o planejamento para saber quando ou não trazê-los). A pergunta é: será que a valorização perante o livro se dá por causa do valor pago pelos pais? (cada livro didático custa em torno de R$ 120,00).
- Não há tempo para planejar a aula: De acordo com a Lei 11.738/2008 (Art. 2º 4º) “Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os educandos”. Vale lembrar que muitos dos nossos políticos são contra essa lei, creio que cabe uma intensa fiscalização e acompanhamento dos professores para que prefeitos e governadores cumpram com a lei, bem como acompanhar as movimentações no congresso para evitar lobby que podem derruba-la.
- Os alunos rasgam os livros e jogam fora: Muitas vezes quando não entendemos o significado de algo, não damos valor para ele. Assim funciona com muitas coisas (sobretudo públicas). No início do ano letivo é extremamente importante ensinar como se deve utilizar o livro didático, deixar claro que ele não é de graça e que será um suporte às aulas. É sempre preciso retomar essa discussão. O processo de conscientização não é simples e não será em uma ou duas conversas que aqueles que não respeitam o patrimônio público vão demonstrar valor pelo livro didático.
- Muitas redes trabalham com apostilas para os alunos e não permitem o uso do livro didático: Realmente, algumas redes trabalham com o caderno do aluno. Entendo que esses cadernos (como o das redes públicas estaduais de São Paulo e do Paraná) apresentem exercícios explorando algumas competências dentro do que estabelecem sobre seu “currículo mínimo”, porém, longe de defender a ideia de “currículo mínimo”, devemos pensar que não podemos nivelar nossos alunos e nossas aulas pelo “mínimo”. É direito de o aluno ter o “máximo”, ou seja, precisamos aprofundar as discussões de forma com que consigamos desenvolver as competências cognitivas nos nossos alunos, e não somente realizar as atividades dos “caderninhos” (já que as respostas estão todas na internet).
Entendo que a partir das orientações e sugestões dos livros didáticos podemos potencializar as aulas trazendo maior significado ao aluno. Claro que alguns pontos merecem ser destacados como, por exemplo, a prática da cópia! A cópia do livro didático não tem sentido algum e essa sim é uma prática que não ajuda em muita coisa.
Já as sugestões de livros, filmes, sites e reportagens de jornal que o livro apresenta ajuda o professor a trabalhar com diferentes linguagens e trazer diferentes perspectivas à sua aula. Caso discorde de algum ponto tratado no livro (o que é comum) pode ser utilizado, inclusive, como ponto de apoio para desenvolver um debate sobre o tema.
Por fim, mas sem querer esgotar o debate, é preciso lutar para que tenhamos horas de planejamento individual e coletivo. É preciso que tenhamos tempo para escolher bons livros que possam nos ajudar e é preciso (principalmente) estudar e conhecer diversas outras formas de trabalharmos em sala de aula.
E você? O que acha dessa discussão? Como é sua experiência na escola? O que você acha do livro didático? Como podemos juntos, melhorar a nossa prática sobre ele?
Ivan Claudio Guedes, 36.
Geógrafo e Pedagogo
GUEDES, I. C. Como trabalhar com o livro didático? Gazeta Valeparaibana [Online] São José dos Campos, 01 jun. 2016. Educação em debate. Disponível em: http://gazetavaleparaibana.com/103.pdf Acesso em 02 mai. 2016.
Ola Prof. , Pelo que eu ouvi do seu video, percebi que o plano de aula é tirado do plano de ensino anual, ok.
Obrigado, Daniel.
Olá Prof! Sou Fábio Vilhena, Prof. de educação básica, munícipe de Oiapoque-AP fronteira ao norte entre Brasil e França…
Bom! Enorme é minha satisfação em poder tirar dúvidas com um educador tão compromissado em partilhar seus conhecimentos…
Pois bem, considero o tema de extrema relevância e ao ler o texto, percebi que no 4º parágrafo cita algumas recomendações para utilizar o livro didático. Porém, peço humildemente que se for possível, seja organizado um texto selecionando algumas dicas de estratégias mais detalhadas… ou indique links, endereços de revistas que publicaram estudos sobre estratégias de uso do livro didático em sala de aula.
Grande amigo e parceiro de sala de aula.
Fico muito feliz com sua sugestão. Eu tinha em mente pesquisar e produzir alguns materiais neste sentido. Com o passar do tempo, as ideias foram esfriando.
Penso em produzir alguns vídeos sobre o assunto.
Um forte abraço e obrigado novamente pela sugestão.
ola amigo do saber, fico muito feliz e entusiasmado quando acompanho informacoes uteis para a nossa carreira proficional e muito mais no que diz respeito a planificacao do professor para possa enquadrar melhor a guestao do uso do livro na sala de aula. gostaria ainda de saber em que momento devemos usar este livro.
Grande amigo. A utilização do livro didático pode ser utilizada em diferentes momentos. Podemos fazer uso do livro para analisar suas imagens, gráficos, mapas ou textos. Podemos também utilizar o livro como aprofundamento dos estudos, fazendo uso dos exercícios que os acompanham (isso pode ser feito como tarefa para casa, ou em sala de aula – de forma individual, duplas ou trios).
Um forte abraço