A AVALIAÇÃO E O ÊXITO ESCOLAR
O que é avaliar?
Será que a avaliação se resume a medir, comparar a uma tabela de acertos e erros? Rotular em satisfatório e insatisfatório? saber o quanto um aluno é capaz de ser um depósito de fórmulas e conceitos pré-definidos? Porque avaliar e para quê avaliar? Onde isso nos levará?
Essas questões são, sem dúvida, relevantes e podem nos levar a repensar no papel do professor, da escola e do sistema educacional. A maneira de avaliar poderá ser utilizada como um rotulador de capazes e incapazes, competentes e incompetentes, aptos e inaptos. Criando uma hierarquia de excelência, tal como a avaliação se propôs durante a construção da escola tradicional que media os conhecimentos adquiridos ao longo do tempo.
Sobre a avaliação e o êxito escolar
Por outro lado, já vimos algumas modificações pedagógicas serem “experimentadas”. Porém, pouca importância se deu à maneira de avaliar. Portanto, consideramos que seja “mais do mesmo” senão houver uma modificação na concepção de avaliação. Apenas modificar a maneira de avaliar sem critérios bem definidos também não irá resolver a questão.
A avaliação via senso comum, tem como objetivo quantificar a classificar o aluno de acordo com um quadro de referências ou de acordo com alguma métrica estabelecida por alguém. Via de regra, também se entende por avaliação a “prova”, aquele instrumento que quantifica o quanto o aluno conseguiu reter sobre um determinado assunto.
O que precisamos discutir, em tempos modernos, é a função da avaliação e os instrumentos que permitam ao professor realmente saber se o aluno atingiu os objetivos propostos, ou não!
Diante desta problemática, precisamos discutir três conceitos:
- O que são objetivos propostos;
- Qual é a função da avaliação e;
- Quais instrumentos são esses.
Dos Objetivos:
Os objetivos propostos determinam aonde queremos que o nosso aluno chegue, ou seja, o que esperamos de sua formação. Temos objetivos expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nas Matrizes curriculares, nas propostas escolares, enfim, em uma série de documentos que tem como objetivo nortear o professor para sua prática docente. Diante dessa diversidade de documentos, espera-se que o professor faça bom uso daquele que está inserido no seu sistema de ensino e liste metodologicamente os objetivos a serem alcançados.
Ainda sobre os objetivos, precisamos ter muito claro que eles se dividem em objetivos gerais e específicos. Grosso modo, o objetivo geral é a somatória dos objetivos específicos que faremos com que os alunos, passo a passo, os percorram. Assim como escrevemos anteriormente, o objetivo geral passa a ser a competência, e os específicos, as habilidades. Por isso, uma aula bem planejada precisa ter muito claro aonde que se quer chegar.
Da Função da Avaliação.
A partir da leitura de diversas fontes que podemos recomendar, tais como: Jussara Hoffmann, Cipriano Luckesi, Philipe Perrenou, Antoni Zabala e Vitor Paro, podemos claramente perceber que a função da avaliação não é a de ser quantificadora e classificadora, mas sim, proporcionar ao professor que realmente saiba se o seu aluno está aprendendo, ou não. A função da avaliação passa a ser, então, diagnóstica, qualitativa, formativa. Ou seja, a partir das diferentes atividades que se trabalha em sala (e fora dela) o professor passa a ter um controle sistemático da evolução intelectual do seu aluno, não somente pela apreensão de conteúdos, mas também, pela apreensão de procedimentos e atitudes.
Dos instrumentos de avaliação.
Tradicionalmente, “aprendemos” através de provas que quantificavam o nosso conhecimento e tínhamos o mérito (ou não) da nota. Será que realmente aprendemos? Quantas vezes fizemos provas em que os mapas estavam em branco e tínhamos que completar com as capitais e os Estados? Quantas fórmulas matemáticas e regras gramaticais memorizamos para as provas e, menos de 30 minutos depois já tínhamos esquecidos?
Pois bem, a questão é que, considerando a prova como um dos instrumentos de avaliação, ela tem um objetivo muito específico (que é a apreensão do conteúdo, ou a verificação de habilidades específicas). É bom deixar claro que ninguém aqui é contra a prova, apenas queremos afirmar que ela não é o instrumento de avaliação mais importante que existe.
Diferentes instrumentos avaliam diferentes habilidades
Pense em uma preparação de seminário. O que os alunos não teriam que aprender para executar tal seminário? Procedimentos de pesquisa, discussão coletiva, organização e seleção de conteúdos, contato com diferentes textos, vídeos e músicas, preparação e apresentação em si do produto final. Pensou? Imagine o quanto de energia os alunos não gastariam para realizar tal tarefa? As oportunidades de conhecimento não seriam muito superiores do que uma simples prova?
E o que dizer da produção textual? Deixar o aluno escrever livremente sobre o que aprendeu e, preferencialmente, estabelecer relações entre a teoria e a prática cotidiana? Não seria muito mais válido do que 10 questões específicas sobre um tema específico?
As atividades do dia a dia também são ótimos instrumentos de avaliação. Comparar tabelas, gráficos, mapas, breves produções textuais sobre algum tema tratado, responde perguntas específicas e complexas sobre diferentes temas… e isso, na prática só serve para o professor marcar um “ponto positivo”. Essas atividades do dia a dia oferecem ótimas oportunidades de acompanhamento da aprendizagem. Isso se o professor não “aceitar qualquer coisa” e solicitar ao aluno que refaça essa atividade até que esteja correta, ou seja, até que ele tenha compreendido o processo, e não simplesmente decorado ou copiado.
O que falar então das avaliações feitas isoladas, visto que as disciplinas são distintas e não formam à primeira vista um todo? Porque não se pensa e mudar de um currículo fragmentado e estanque para um currículo integrado? Segundo Bernstein (1975) isto seria possível através de mudanças estruturais do sistema escolar. Essa mudança seria factível desde que houve um recorte num dado sistema educacional, onde seria estabelecida a divisão de responsabilidades entre os professores (Perrenoud, 1995).
Por fim…
Não estamos aqui defendendo uma mudança radical em que tudo que foi feito até agora se tornaria imprestável. Não, não é isso. Mas, é necessário estabelecer, como dissemos nos parágrafos anteriores, objetivos e planejar nossa prova. Saber o que pretendemos com a avaliação, ou seja, queremos saber se o aluno aprendeu, ou se ele apenas decorou algo? Nossa avaliação é meramente classificatória? Queremos deixar bem claro que não é nada demais uma avaliação classificatória, ela pode continuar existindo, porém não isoladamente. Deve vir sempre acompanhada de uma avaliação diferente, por exemplo, formativa.
CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. A avaliação e o êxito escolar: o que é avaliar?. Gazeta Valeparaibana [Online] São José dos Campos, 01 out. 2015. Educação. Disponível em http://gazetavaleparaibana.com/095.pdf Acesso em 07 out. 2015.