A REFORMA DO ENSINO MÉDIO FOI APROVADA

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A REFORMA DO ENSINO MÉDIO FOI APROVADA:

E AGORA JOSÉ?

Reforma do Ensino Médio aprovada

Reforma do Ensino Médio aprovada

A reforma do Ensino Médio está ai. Conforme foi amplamente divulgado pela mídia, a reforma foi sancionada pelo presidente e deve entrar em vigor. Durante essa curta discussão, o governo se colocou “à disposição para ouvir a população”. Mentira! O projeto já estava pronto. No máximo acataram poucas alterações que não muda a essência do projeto.

Venho discutindo constantemente neste espaço da Gazeta Valeparaibana, e em outros, os aspectos positivos e negativos deste projeto (mais negativos do que positivos, diga-se de passagem) – clique aqui para ver os outros textos.

Que o ensino médio precise de uma reformulação urgente, isso já estamos cientes e discutindo há algum tempo (no meu caso, desde 2001). Porém, não é na base da canetada que se muda uma estrutura como essa que está ai.

Atualmente temos 8 milhões de alunos com altas taxas de evasão escolar e demonstrando um pífio conhecimento (independente de avaliações externas, basta frequentarem uma escola para ver como o carro anda).

Segundo os dados do Censo Escolar (2016), publicadas em fevereiro de 2017, temos 2,8 milhões de jovens (de 4 a 17 anos) fora da escola. Os maiores indicadores estão nas pontas. 595.982 de crianças de 4 anos e 898.564 de jovens de 17 anos. – Clique aqui para baixar os dados do Censo Escolar.

O censo escolar sobre o Ensino Médio

As taxas de aprovação no ensino médio saltaram de 74,9 em 2008 para 81,7 em 2015. Lembrando que essa taxa de aprovação não reflete a qualidade do ensino, já que muitas vezes (isso não é regra) o nível de exigência é baixo, muitos impõem um sistema de aprovação automática ou simplesmente aprovam o aluno para bater a famosa meta (e conseguir o bônus, ou “subornus” como costumo dizer). Veja o gráfico:

Taxa de insucesso no Ensino Médio

Taxa de insucesso no Ensino Médio

Fonte: Censo escolar da educação básica 2016.

Muitos “especialistas” em educação discutem que as taxas de reprovação escolar são altíssimas. Porém, poucos discutem as razões da reprovação. Sobre este assunto, Omar de Camargo e eu, discutimos em setembro de 2013, neste mesmo jornal, as questões da reprovação escolar no Brasil. É preciso entender a escola do portão para dentro. Acompanhar e verificar sistematicamente o que está acontecendo na sala de aula. Não é na base de uma canetada como essa que muda a estrutura da educação, repito. (Clique aqui para ler o artigo “Aprovar ou Reprovar, eis a questão”).

Contradições…

A reforma do ensino médio vai demandar (necessariamente) a ampliação da quantidade de escolas pelo país. O governo diz que não. A matemática é simples: se eu possuo uma escola com 10 salas de aula (450 alunos por período), funcionando de manhã e a tarde (no período da tarde, geralmente funciona o ensino fundamental II), como eu vou colocar os 450 alunos no período integral e dar conta dos outros 450 alunos, ocupando as mesmas 10 salas?

Outro ponto interessante da reforma é sobre o currículo escolar. 60% do currículo está definido na lei, os outros restantes vai demandar da Base Nacional Curricular Comum e das “especificidades do lugar”. Na prática, isso significa que a escola vai cumprir apenas os 60% estabelecidos no currículo, já que é isso o que será cobrado nas avaliações externas. Neste mesmo segmento, é importante destacar que o sistema não é obrigado a oferecer todas as áreas de aprendizagem em todas as escolas. Sendo assim, se o aluno quiser cursar humanas e não tiver humanas na sua escola, ele que procure em outro lugar. Ainda estou tentando entender essa logística.

Novos rumos do governo para enfiar goela abaixo a reforma do Ensino Médio

No mais, muitas coisas ainda estão obscuras. O governo, para tentar “esclarecer” as ideias, demandou um orçamento de R$ 295 mil para seis youtubers fazerem propagandas pró reforma. Assisti um desses seis vídeos. Minha opinião: nada de mais. Apenas propaganda repetida do governo, além de várias colocações senso comum (inclusive defendida pelo governo): “Porque, vamo lá, vamo por parte, um cara que já decidiu que quer ser veterinário e, sei lá, uma mina que quer trabalhar,  com geografia, essas duas pessoas não precisam estudar as mesmas coisas” (sic). Realmente, na FACULDADE eles vão estudar matérias diferentes. Mas ai eu pergunto: será que o veterinário realmente não precisa conhecer geografia? Será que a geógrafa não precisa saber matemática? Química? Física? Será que um chefe de cozinha não precisa conhecer história, geografia, matemática, química, língua portuguesa, arte, educação física, etc.?

Não vou entrar neste mérito da questão (por enquanto). Mas isso precisa ser muito bem discutido e compreendido por todos (depois não reclame que o veterinário do seu animal não sabe diferenciar raças de cachorro, remédios e procedimentos por que desconhece a origem geográfica e as necessidades da espécie). Ou, ainda, prescrever a quantidade de um remédio para o seu animalzinho, simplesmente porque ele não consegue calcular a quantidade do princípio ativo em função da massa do animal (ou peso como querem alguns), pois ele não gostava de matemática e de geografia, então resolveu escapar das aulas. Afinal, para ser veterinário não precisaria saber geografia e nem matemática. Será?

Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
[email protected]

 

GUEDES, I.C. A reforma do Ensino Médio foi aprovada: E Agora José? Gazeta Valeparaibana. Ed. 112. Ano X. Disponível em: http://www.gazetavaleparaibana.com/112.pdf; mar, 2017, p.09.

BÔNUS

 

Para quem não viu, recomendo muito esses dois vídeos sobre a Reforma do Ensino Médio.

 

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About the Author

Ivan Guedes

Prof. Dr. Ivan Claudio Guedes, Geógrafo e Pedagogo. Professor de Geografia na educação básica e Docente do curso de Pedagogia no Ensino Superior Coloca todo o seu conhecimento a disposição de alunos acadêmicos, pesquisadores, concursantes, professores, profissionais da educação e demais estudantes que necessitam ampliar seus conhecimentos escolares ou acadêmicos.

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