VAI CAIR NA PROVA?
Até bem pouco tempo essa frase era comum, ou melhor, ainda é comum entre os alunos perguntar ao professor se determinado assunto irá cair na prova.
Tal questionamento ocorre independentemente de ciclo de ensino, desde o ensino fundamental I ao Ensino Superior (incluindo a pós-graduação). Mas, pensando especificamente na pergunta, o que significa “cair na prova”? Pode parecer loucura, ou que estamos “viajando na maionese” como se diz, porém isso reflete bem o que o aluno e o professor percebem como sendo uma aula, ou a transmissão de conhecimento. Cair na prova significa: “só vou estudar se for estritamente necessário, caso não fizer parte da avaliação eu não estudo”.
O bem da verdade, culturalmente quase nunca o aluno estuda, quanto muito assiste a aula. Mas e o professor, ensina sempre? Como se dá esse binômio ensinamento – aprendizagem? O que significa estudar? E o que significa ensinar? A avaliação serve para quê? Como se deve ensinar? Como se deve aprender ou estudar? Como se deve fazer uma avaliação dos conhecimentos transmitidos? Será que o professor (considerando como professor o Pedagogo, o especialista licenciado e o do ensino superior que muitas vezes não tem formação enquanto professor) tem a exata noção do processo ensino – aprendizagem?
Claramente que para responder todas as perguntas acima, precisaríamos escrever um livro (diga-se de passagem, para cada uma das perguntas acima existem vários livros, mas que nem sempre são lidos – salvo em época de concursos públicos).
Içami Tiba em seu trabalho “Ensinar aprendendo” nas páginas 17 e 18 nos alerta:
“O que se prega hoje é a responsabilidade, atribuída ao próprio aluno, por sua falta de aprendizado. O que muitos professores ainda aplicam, num sistema antigo, é: ‘eu, professor, ensino; vocês, alunos, escutam e aprendem’. isso, comodamente, significava que o professor cumpria sua parte. Era responsabilidade do aluno aprender ou não aprender”.
O professor, ainda hoje, tem se mostrado um mero transmissor de conhecimentos que muitas vezes segue exatamente a cartilha exigida pelo sistema (seja ele qual for). Como resposta aos anseios do professor, os alunos respondem com uma dose de indisciplina misturada, em igual parte, com decoreba da melhor qualidade. É esse o processo ensino-aprendizagem? O paradigma professor – transmissor deverá ser quebrado e em seu lugar um novo paradigma deverá ser criado, que é o professor – orientador.
No mundo atual em que a Internet nos aproxima de tudo e de todos é quase impossível ficar alheio às novidades, ou às recentes notícias na China, ou em qualquer lugar do mundo. Estamos a um clique do conhecimento e de informações quaisquer. Obviamente que é preciso um filtro sobre a qualidade do que se tem à mão, mas, o que queremos dizer é que não dá mais para o professor ficar isolado numa sala de aula com apenas giz e lousa numa verborragia louca e desenfreada julgando se o detentor do conhecimento.
A esse “modelo” de professor-orientador, cabe ao trabalho de preparar o aluno não para vestibulares ou para cumprimento de metas que supostamente atestam a qualidade do ensino, e sim para o desenvolvimento das suas capacidades mentais, o conjunto de competências e habilidades que estão muito bem descritos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) que permitirá ao aluno realmente conviver em sociedade, ser um cidadão crítico, reflexivo e produtivo no mundo atual.
Via de regra, o que ainda se observa em muitas escolas é a prática de colocar o texto na lousa, dar visto no caderno e aplicar questões diretas em que os alunos acham as respostas no caderno. Na hora da prova cobra-se exatamente as questões que foram para o caderno (pasme, isso acontece também no ensino superior, inclusive como método de ensino em alguns Fast foods da educação).
A gestão de sala de aula, em tempos atuais, é foco de diversos debates e publicações, entretanto, muito se teoriza e pouco se apresenta de concreto, ficando apenas no plano do ideal.
O professor deve ter a clareza sobre as reais necessidades da sua turma e ter liberdade o suficiente para traçar seu plano de ensino sobre as necessidades do seu grupo, e não sobre um currículo moldado por “alguém em um lugar tão distante”. Em diversos outros artigos nossos nessa coluna, exploramos as questões elencadas acima. Nosso propósito não é inventar a roda, e sim oferecer alguma luz ao debate.
A gestão de sala de aula é complexa e envolve muito estudo. O primeiro deles é a necessidade dos seus alunos. Será que realmente todos dominam a leitura e a escrita? Esse pode ser o primeiro passo. O conteúdo a ser ensinado passa a ser uma ferramenta para se trabalhar tais competências. A leitura compartilhada é um exercício de altíssima recomendação (e mal explorado na prática). Destrinchar um texto junto com seus alunos, apontando em lousa e registrando no caderno apenas os pontos mais importantes, pode ser uma boa pedida para se trabalhar nessa perspectiva. Adiante, a produção textual deixando o aluno escrever livremente sobre o que escreveu também é altamente aconselhável, uma vez que ele deve se expressar, organizando os conteúdos trabalhados, dentro de uma situação concreta.
A utilização da tecnologia também é bem vinda. Filmes, desenhos, documentários, imagens projetadas, músicas e infográficos animados, seguidos sempre de uma boa discussão e de uma produção textual, também rendem bons frutos.
Obviamente que não vamos fugir dos problemas do dia a dia: pouco tempo de hora/aula, excesso de alunos por turma, falta de materiais didáticos (por vezes até mesmo o giz falta), falta de estrutura, enfim, tudo aquilo que dificulta o trabalho docente. Entretanto, neste momento devemos parar e pensar também um pouco sobre a nossa prática pedagógica.
Daí fica a pergunta:
O que ensino realmente é importante ou eles só devem aprender o que vai cair na prova?
Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
[email protected]
Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
[email protected]
CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. Vai Cair na Prova?. Gazeta Valeparaibana [online], São José dos Campos, 01 mar. 2015. Espaço Educação. Disponível em: http://gazetavaleparaibana.com/088.pdf Acesso em 24 mar. 2015.
Ainda hoje vemos um distanciamento entre professor e aluno. Esse distanciamento e a falta de foco de alguns alunos torna o exercício da profissão de professor algo meio complicado. O artigo reflete,se entendi,a preocupação com a desenvoltura dentro da sala e suas conseqüências.
Omar, você deve ter entendido bem a proposta (já que é coautor).
Muitas vezes nossas aulas estão limitadas à importância diante das provas ou exames, e não exatamente sobre a importância da aula.
Um forte abraço, parceiro.
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Um forte abraço.