O texto abaixo foi escrito como um “direito de resposta” e encaminhado à FOLHA DE SÃO PAULO. Porém, sua publicação foi negada pelos editores que alegaram “falta de espaço”.
Pois bem! Esta ai!
Na condição de aprendiz da aprendizagem me senti infortunado com a discrepância no tocante ao entendimento das “soluções obvias” para a melhoria do desempenho dos alunos, bem como instigado a tecer, ainda que em poucas linhas, o meu humilde parecer sobre essa complexa estrutura que envolve o (in)sucesso escolar dos nossos alunos. Para ordenar as ideias acerca deste debate listarei em ordem como o fez a FOLHA DE SÃO PAULO em 9 de Novembro de 2009 na página“saber”.
1. Só pagar melhor o professor já melhora o aprendizado. Realmente a que se discordar com tal tese. Porém, quando se observa em escolas privadas, as escolas “de ponta”, as que estão no topo dos “rankings” o fator salário é sim um grande atrativo para os melhores professores, àqueles que continuaram estudando e desenvolveram seus métodos de ensino. Já no ensino público não se faz diferença, pois a ideia de estabilidade diante de um concurso público não incentiva ninguém a estudar.
2. Melhorar a infraestrutura da escola tem impacto positivo no desempenho dos alunos. Claramente essa ideia é falsa. Falta ai o fator humano. Não adianta ter máquinas de ponta se não há profissional que saiba manusear. Já presenciei em escolas particulares a compra de equipamentos futurísticos em que não se sabia nem se quer como ligar o aparelho (mas a imagem do aparelho aparecera em diversas propagandas), já em escolas públicas, alem de não saber utilizar o aparelho (inclui-se aqui desde um microscópio e datashow) a burocracia e o terror que se coloca diante da responsabilidade que o professor tem que ter com o equipamento. Diretores (nem todos) colocam os aparelhos no cofre e, para utilizar, tem que se travar uma luta épica.
3. A progressão continuada contribui para piorar a qualidade do ensino. É fato que progressão continuada no Brasil foi imposta e tratada como progressão automática para resolver simplesmente um problema de número. Como todo governo que tem que prestar contas com números, o sistema de Progressão Continuada conseguiu reduzir a quantidade de reprovações e os índices de evasão. Já a qualidade destes que são promovidos… Incluo aqui que para se colocar esse sistema faltou o diálogo e a preparação. Entender o sistema de ciclos, seus objetivos, sua função de desenvolver competências e habilidades em cada ano, a complexidade que deve se trabalhar em cada etapa e outros fatores, que aprofundaria demais este tema, não foram trabalhados, estudados e incorporados pelos professores. Mas seu objetivo principal foi alcançado, basta agora rever estes outros.
4. Cursos de reciclagem para professores ajudam a melhorar o ensino. Realmente não melhora, e a FOLHA já traz seu motivo: “Eles são muito teóricos e influenciam pouco na melhoria do ensino em sala de aula”. Ora, eles são teóricos porque: ou o curso é uma revisão de conteúdo ou porque o curso fica na discussão de autores da educação. Melhorar a qualidade da formação universitária é necessário, mas, a formação continuada do professor também é. Adiante trato com mais afinidade este tópico. (Vale lembrar que reciclagem é um termo utilizado para reutilizar lixo).
5. Gastar mais com educação é suficiente para aumentar o aprendizado dos alunos. Outro grande problema: Ingerenciamento da verba. Existem diversos estudos que apontam nesse sentido, livros que são comprados e não são utilizados, aparelhos idem, licenças e faltas dos docentes que refletem na verba da educação, manutenção dos prédios por falta de zelo da comunidade ou por ações de vândalos… nem vou adentrar aos casos de corrupção em todas as esferas administrativas para não provocar mais debate!
6. A escola não pode ajudar filhos de famílias desestruturadas. A relação escola e família se tornou (por diversos fatores) uma relação conflitante, e não de harmonia e cumplicidade. A escola empurra para os pais a responsabilidade de educar, enquanto que os pais, por serem ausentes, trabalhar de mais, não estabelecer suas regras… empurram para escola esta responsabilidade. É preciso ter bem claro, para ambos, quais são as suas responsabilidades para acabar com este jogo de ping pong.
7. Sistemas de ensino apostilados tolhem a autonomia dos professores. Os sistemas de ensino trabalham de uma forma direta. Aula-aula, tem-se os passos de cada aula, as tarefas extras, os trabalhos… ou seja, já vem tudo mastigado para o professor, por isso de tolher a autonomia, porém, é preciso ter bem claro o que se está trabalhando e como está trabalhando pois, corre-se o risco de voltarmos ao sistema de ensino em que se memoriza conteúdos sem aplicação prática. Os sistemas de ensino podem facilitar o processo por padronizar os conteúdos, mas a grande questão está na prática em sala de aula e a relação deste conteúdo com o interesse do aluno em aprender e do professor em ensinar.
Diante destas breves colocações, posso agora refletir um pouco mais adiante.
Muito se fala na má formação do professor na universidade. Questões de mercado, diminuição da grade curricular (para atender mercado) curso noturno com alunos que acabaram de passar por um dia inteiro de trabalho, professores universitários mal preparados, sem vivência prática do que ensinam, enfim, uma série de fatores que se tornam um ciclo que se repete todos os dias. Mas há algo que poderia fazer a diferença na formação de professores:
Para adentrar neste tópico utilizo as palavras de Paulo Freire: “O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer”. Bem, conclui-se que não há fórmula mágica que se dê nas universidades para que o professor saiba ensinar, sem antes ter passado por esta experiência, isso porque, na universidade somos todos adultos e aprendemos de forma diferente daquele que está na escola básica, ou seja, não é dando seminários que estaremos aprendendo a ensinar.
Posso inferir aqui uma proposta que poderia ser aplicada nas grades curriculares das universidades. Os professores das disciplinas específicas (História, Geografia, Português, Ciências…) saem com uma bagagem razoável de conteúdos, mas sem o conhecimento pedagógico, ou seja, de onde parte o processo de ensino-aprendizagem. A disciplina Didática, geralmente é aplicada por um não Pedagogo, ou seja, alguém que decora alguns autores e trabalha com essa disciplina sem relação com o conteúdo aprendido.
Porque, então não colocar, no primeiro semestre, a disciplina Didática, com um Pedagogo para dar as bases gerais da Pedagogia e, nos semestres seguintes, uma disciplina chamada de Prática Pedagógica, onde os alunos aplicam o conteúdo aprendido com os especialistas de uma maneira prática (ainda que no campo teórico), mas elaborando planos de aula, verificando a avaliando modelos e aprendendo o real significado de se ensinar tipos de relevo ou genética ao aluno da escola básica? Acredito que, assim, o recém-formado possa integrar a teoria específica com a teoria pedagógica e construir suas bases para desenvolver em sala de aula. Não acredito que, somente isso possa resolver os problemas da educação. Como citado acima, isso é muito mais complexo e, para tentarmos chegar a uma conclusão, seria preciso muito debate e muitas páginas a mais no jornal, mas, creio sim que organizar e aplicar ações pontuais podem num conjunto resolver o problema
Para baixar as reportagens em formato PDF clique abaixo:
http://www.4shared.com/document/MECLDObc/7_mitos_da_educacao.html
http://www.4shared.com/document/W8z0ZBL3/Folha_Online_-_Educao_-_Nem_tu.html
Professor,li e achei bastante pertinente ao que estou discutindo no tcc,isso ajudou um pouco a exclarecer alguns pontos à abordar.abraço Andrea