Como podemos acabar com a Corrupção neste País se não existe uma Educação com este objetivo? Educar é progredir, é renovar, é melhorar padrões e comportamentos, e pode acontecer em qualquer idade. Sem dúvida, é difícil acabar com a Corrupção, que sempre existiu, mas é possível diminuí-la, combatê-la. Como todos os vícios, tende sempre a aumentar, podendo atingir um grau irremediável. Seus efeitos podem levar à degradação ao desatino pessoal de grandes homens.
A Corrupção não ocorre só no poder público e no relacionamento com o poder público; extravasa para todas as áreas. É um vício que se generaliza com facilidade; faz adeptos e cúmplices. Muitas vezes, a droga é um de seus efeitos, porque quem se torna indigno adquire a tendência para o mal.
Há homens instruídos, até mesmo de grande erudição, que são corruptos. A Corrupção não colide com Instrução, porém, colide de cheio com a Educação: o que nos dá plena idéia dos dois campos completamente diferentes. Instrução é aquisição de conhecimentos, de saber. Educação é procedimento, conduta. Por isso, defendemos a tese da Educação das gerações presentes e futuras, ao lado da Instrução ou concomitantemente com essa.
Segundo a Educação que recebem, os homens tornam-se, para sua comunidade, uma recompensa, ou um castigo. O mesmo acontecendo com os filhos em relação aos pais.
O problema da Corrupção seria resolvido com a punibilidade dos corruptos? É claro. Todavia, antes, terá de haver inquéritos com critério e seriedade, apurando responsabilidades.
Acontece, porém, que esses inquéritos estão sujeitos a muitas circunstâncias burocráticas, a influências diversas, inevitáveis, que mudam o curso dos acontecimentos. Provar é difícil em todas as áreas. Crimes horrorosos estão aí na face da sociedade e não se consegue pôr a mão em seus autores e responsáveis, embora existindo um quadro policial supostamente eficaz e bem diversificado.
A democracia é o melhor regime, não há dúvida, porque é o regime do direito e da liberdade, mas abre ensejo, por isso mesmo, há distorções e manobras nem sempre benfazejas. Os jornais noticiam livremente, bem como as televisões; discute-se nas assembléias, o povo toma conhecimento e os comentários se sucedem em todos os segmentos sociais. Portanto, prevalece à necessária crítica democrática. Resolve o problema? Se assim fosse, já estaria plenamente resolvido.
Ressalte-se que a democracia tem em sua essência a liberdade da palavra, a possibilidade de que a verdade amplamente divulgada fará com que o público possa ter juízo, equilíbrio. Em nosso País, tem havido crítica sem censura à Corrupção. Muita. Nos programas de televisão, as manifestações são contundentes, evidenciando as possíveis indignidades nas administrações públicas. Por acaso, essa prática redundou em algum efeito positivo? Produziu em nossa sociedade algum resultado efetivo contra a Corrupção? Que se saiba, não. Na pratica, o que acontece são retaliações noticiosas.
Educar é o caminho, imprimindo no caráter dos homens, desde cedo, a virtude da justiça. Aprende-se essa virtude como se aprende a ler e a escrever, desde que seja ministrada no lar e nas escolas. Sua influência é grande no comportamento individual e coletivo, modificando a personalidade que conduz o educando a receber sempre as conseqüências de seus atos. Sampaio Dória, em seu excelente compêndio Educação, ministra lição completa a respeito desse problema educacional. Diz ele: “É preciso que se incuta no educando o hábito do bem e o horror ao mal. Em primeiro lugar que ele, desde cedo, se habitue a deliberar por si mesmo. Não se pode considerar educada a pessoa incapaz de conduzir-se na vida, sem vontade própria. É a aquisição do hábito da liberdade. O cidadão só é alguém quando aprender a resolver-se por si mesmo. É, então, homem livre, ou digno de liberdade. Sente-se a si próprio, forma a consciência de seu valor, o sentimento de sua personalidade. Como conseqüência, é capaz de iniciativas.” Em favor do seu Bem e da comunidade.
O segundo hábito, diz o mesmo autor: “Consiste em que o educando se habitue a prever necessariamente as conseqüências de seus atos, atitudes ou omissões. Nada de sério se dispõe a fazer, ou deixar de fazer, sem antes refletir. Tem sempre a consciência de como age.”
Com essas duas aprendizagens completadas com a da responsabilidade, ou seja, receber sempre as conseqüências de seus atos, a personalidade, normalmente, reagirá contra a Corrupção, terá aversão a ela, excetuada a hipótese da anormalidade, ou seja, de ser um doente mental.
Quem pratica a Corrupção, é evidente, não se encontra preparado para responder por seus atos, o que acontece, então, de modo geral, em sua vida particular ou pública. Não foi educado para isso. Assim, acha fácil negar suas próprias ações ou escondê-las em proveito pessoal. Pratica suas indignidades, achando-as muito naturais, sem medir suas conseqüências e a extensão de seus malefícios.
A Educação contra a Corrupção pode ser efetivada de diversas maneiras. Em qualquer escola, e nos lares, em primeiro lugar. Teria de haver orientações e diretrizes nesse sentido. Mas, ao contrário, a liberdade implantou-se de forma prioritária, e as vozes não seguem em defesa de outra tese.
Um dos meios eficazes de educar, de forma generalizada, contra a Corrupção, é através de campanhas bem planejadas, como muitas que se fazem hoje por intermédio da televisão.
Ressalte-se que o Magistério e a Igreja, principalmente nos exercícios normais de suas próprias funções, muito poderiam fazer em favor desse objetivo, educando contra a Corrupção. Suas lições circulariam com o valor de pepitas de ouro no organismo da nacionalidade. Sem trabalho educativo contra esse mal, pouco ou nada se conseguirá.
A boa Educação do caráter rejeita a Corrupção. É essencial a formação do caráter dos jovens. Excluí-la, como se vem fazendo, não é admissível.
Ministrada na escola da família como muitas vezes acontece, produz os melhores efeitos, criando personalidades inteiramente avessas ao vício da Corrupção, conforme se pode observar.
Íntima é a relação entre Educação e Corrupção, ressaltando a necessidade de se cuidar do problema com a máxima atenção na escola e no lar.
Nota do Editor: Artigo extraído do livro ´´Educação Nacional – Formação do Caráter“, de Américo Menezes, Professor Catedrático, Advogado, Procurador Federal, ex-diretor de dois educandários no Espírito Santo, Escritor.