O Estado de S.Paulo
Registrando em 2011 notas inferiores às obtidas nas avaliações de 2008 e 2009, o último balanço da educação paulista mostra que o desempenho dos alunos da rede pública de ensino básico continua abaixo do que se pode esperar do Estado mais desenvolvido do País. Os resultados, com base no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar (Saresp), são preliminares e se referem ao conhecimento de matemática e língua portuguesa dos 678 mil estudantes da 5.ª e da 9.ª séries do ensino fundamental e dos 322 mil alunos da 3.ª série do ensino médio.
Em matemática, só 0,3% dos estudantes do 3.º ano do ensino médio tinha conhecimento considerado avançado – ou seja, sabiam mais do que o esperado para a série. Apenas 4,2% tinham conhecimento adequado e 58,4% tinham conhecimento considerado abaixo do básico, pelas autoridades educacionais. Numa escala de zero a 500, a média da prova de matemática foi de 269,7 pontos, no Saresp de 2011 – na prova de 2010, ela foi de 269,2 pontos.
Essa nota indica que a maioria dos formados do ensino médio – que estão na faixa etária entre 17 e 18 anos – não tem o domínio de conteúdos, competências e habilidades desejáveis para a disciplina. Eles não sabem resolver nem mesmo questões elementares de álgebra e geometria. Em português, os alunos da mesma série também não se saíram bem – a nota média do Saresp de 2011 foi de 265,7 pontos – a mesma registrada na prova de 2010.
O melhor desempenho no Saresp de 2011 foi registrado no 5.º ano do ensino fundamental, cujos alunos têm entre 11 e 12 anos. Eles tiveram um aumento de 4,6 pontos em português e de 4,4 pontos em matemática, com relação ao Saresp de 2010. As autoridades educacionais enfatizaram esse progresso. Também chamaram a atenção para uma leve melhora no desempenho dos alunos da 3.ª e da 7.ª séries do ensino fundamental. E alegaram que, embora o número de alunos da 3.ª série do ensino médio despreparados continue sendo muito alto em termos absolutos, em termos comparativos as provas do Saresp registraram um pequeno avanço, entre o de 2010 e o de 2011.
“Os dados apontam que estamos no caminho certo, mas precisamos avançar ainda mais”, disse o secretário adjunto de Educação, João Cardoso Palma Filho. Depois de alegar que o fraco desempenho do ensino médio decorre do desinteresse dos estudantes e que esse problema vem sendo registrado em todo o País, e não apenas em São Paulo, ele afirmou que o governo estadual espera um aumento gradual nas médias de matemática, uma vez que o bom desempenho dos alunos da 5.ª série do ensino fundamental, no Saresp de 2011, terá impacto positivo nas provas dos anos seguintes.
Há especialistas, contudo, que discordam. No conjunto, “o desempenho dos estudantes (no Saresp de 2011) foi praticamente o mesmo desde 2007. Isso mostra que a política educacional não avançou como deveria”, disse Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Para Wanda Engel, do Instituto Unibanco, a situação do ensino médio é grave e preocupante. “Não adianta ensinar conteúdos dessa etapa se o aluno não desenvolveu as competências no ensino fundamental. É tentar colocar coisas em cima de uma base inexistente”, afirmou.
E especialistas em pedagogia lembram que, apesar de ter aprimorado os mecanismos de avaliação da rede pública de ensino em São Paulo, o governo estadual não estaria usando as informações obtidas no planejamento educacional. Para eles, em vez de desenvolver projetos pedagógicos, melhorar o material didático, realizar concursos para o magistério público e investir na manutenção de instalações físicas, o governo continua recorrendo a professores temporários e gastando recursos escassos com discutíveis estratégias de estímulo – como a distribuição de tablets a docentes e de laptops para os alunos com notas mais altas.
De fato, por mais úteis que sejam, esses instrumentos não produzirão melhorias significativas num sistema educacional defasado e mal orientado.